Ser para poder pertencer

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
Desde que me conheço por gente sempre quis pertencer à alguém. Pertencer, ser de alguém! Entende o poder dessa frase? Na minha cabeça eu só poderia ser feliz de verdade se eu estivesse com alguém. E por muito tempo acreditei nisso. Acreditei em castelos de areia, sapos virando príncipes, acreditei na propaganda feliz de margarina. Acreditei que o meu sexo frágil só seria completo com um macho alfa. E assim fui levando essa maldita sentença enraizada na minha cabeça. Vivendo amores abusivos, mendigando por amor, me anulando para que meu mundo azul (azul da cor do mar) fosse de fato feliz e tivesse um sentido.

Chorei debaixo do chuveiro por me sentir suja, simplesmente porque o "cara perfeito daquele encontro perfeito" me ganhou com meia dúzia de palavras bonitas. Entre um copo de cerveja o papo fluía e eu encantada com seu modo de conduzir, entre uma carência ou outra enroscava no seu corpo e lá estava eu dilacerando meu coração mais uma vez, entregue na boca do leão. Quantas vezes tive crise de ansiedade esperando o telefone tocar, ou até que aquela maldita mensagem de Bom dia refletisse na tela do meu celular, perdi as contas. Sexo casual nunca funcionou comigo e eu não entendia o porque. Na verdade nada de casual combinou com a minha essência. Sabe porquê? Porque sempre detestei mergulhar em rios rasos...
Só o meu travesseiro sabe quantas noites fui dormir com o olho inchado, nunca tive vergonha de chorar ao vivo e a cores. Invejosos dirão que é fraqueza eu digo que sempre deixei a alma transparecer e não há fortaleza que aguente quando o eu interno está saturado. E meu eu interno já não esperneava. Ele berrava, urrava. E volta e meia retornava para casa com o desejo de pertencer à alguém... Engana-se quem pensa que amores abusivos são somente no relacionamento entre homem e mulher.
O abusivo está em toda parte, está naquela conversa de que você já passou da hora, está encalhada...vamos apresentar "fulano", "ciclano" que é o cara para ela- Pera ai! Ninguém ao menos se quer perguntou se eu queria conhecer o "tal" e mais uma vez a maldita sentença de que eu precisava pertencer à alguém me assombrava. E assim mais uma vez retornava pra casa querendo ser de alguém... Depois de mais um relacionamento fracassado, a noite perfeita que era para ser perfeita fez meu castelinho de areia desmoronar...mais uma vez eu era usada e descartada e então sentada (um jeito polido e bonito de dizer) quando na verdade eu estava jogada no chão me sentindo pior que trapo de passar no chão e urinado por centenas de cachorro que percebi que o meu sexo frágil não precisava de um macho alfa para estar completo.Eu já era completa! Pés e mãos completos, processos fisiológicos completos, olhos completos...tudo em mim era completo e em perfeita harmonia. E finalmente eu compreendi que não precisava pertencer à alguém porque eu já pertencia. Pertencia a mim mesma... Pertencia aos meus sonhos, metas, objetivos, pertencia a minha fome por comida, pertencia a minha vontade de ser feliz mesmo que fosse em um castelinho de areia...eu era dona de mim e não pertencente de alguém. Foi ai que entendi a sutil diferença entre ser e pertencer. Ser para poder pertencer...
aH! e o sexo frágil aqui não é nada frágil, dá umas trincadas de vez em quando (ou quase sempre). Ela aprendeu a ser resiliente.
 
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